O que é ?
O pé diabético é uma complicação do Diabetes Mellitus e ocorre quando uma área machucada ou infeccionada nos pés desenvolve uma úlcera (ferida). Seu aparecimento pode ocorrer quando a circulação sanguínea é deficiente e os níveis de glicemia são mal controlados. Qualquer ferimento nos pés deve ser tratado rapidamente para evitar complicações que possam levar à amputação do membro afetado.
Explicando a Doença
O diabetes mellitus é uma doença grave, de evolução lenta, que se não controlada adequadamente provoca inúmeras lesões em todo o organismo. O chamado pé diabético é uma das complicações mais comuns nos pacientes diabéticos, sendo o resultado final de um conjunto de alterações que o diabetes provoca nos membros inferiores, incluindo lesões nos nervos, alterações na circulação arterial, redução da imunidade e alterações na anatomia dos ossos do pé.
Os níveis de glicose elevados cronicamente provocam danos nos nervos periféricos, levando a um quadro chamado de neuropatia diabética. O paciente com neuropatia diabética pode perder a sensibilidade normal dos pés, tendo dificuldade de sentir dor e de distribuir corretamente o peso do corpo sobre os pés. Estes fatores podem levar a uma pressão anormal em regiões dos pés durante o ato de caminhar, tornando-se fácil desenvolver pontos de pressão calosos e ferimentos na pele, tecidos moles, ossos e articulações. Úlceras podem surgir se não houver cuidados com os pés do paciente diabético. A neuropatia diabética pode também enfraquecer certos músculos dos pés, contribuindo ainda mais para a deformidade nos mesmos. Ao longo do tempo, repetidas lesões nos ossos e articulações podem alterar drasticamente a anatomia do pé, criando um ciclo vicioso onde cada nova lesão favorece o aparecimento de outras.
Outro fator importante no desenvolvimento do pé diabético é a lesão dos vasos sanguíneos que nutrem os pés. O diabetes cronicamente mal controlado causa danos às artérias dos membros inferiores, diminuindo o fluxo de sangue para os pés. Esta má circulação pode causar isquemia da pele, contribuindo para a formação de úlceras e prejudicando a cicatrização de feridas.
Em alguns pacientes a lesão vascular é tão grave que partes do pé se tornam isquêmicos, evoluindo para gangrena. Cerca de 5% dos diabéticos acabam por necessitar amputar um dedo, ou mesmo todo o pé, devido a esta complicação.
O terceiro fator para o surgimento do pé diabético é o comprometimento do sistema imunológico que ocorre no diabetes, facilitando a ocorrências de infecções e tornando difícil a cicatrização de feridas. Devido à má circulação sanguínea, os antibióticos podem não chegar ao local da infecção adequadamente, havendo risco da infecção se espalhar para a corrente sanguínea, provocando SEPSE que é um conjunto de manifestações graves em todo o organismo produzidas por uma infecção. A sepse era conhecida antigamente como septicemia ou infecção no sangue. Hoje é mais conhecida como infecção generalizada. Pacientes com diabetes devem aprender a analisar os seus próprios pés e saber reconhecer os primeiros sinais e sintomas de problemas do pé diabético.
Fatores de Risco para o Pé Diabético
O reconhecimento precoce e o manejo dos fatores de risco são importantes para reduzir o aparecimento de ulcerações e lesões graves do pé. O principal fator risco é o diabetes mal controlado, pois níveis persistentemente elevados de glicose são os responsáveis pelas alterações que propiciam o surgimento do pé diabético.
Outros fatores de risco importantes já foram apresentados: neuropatia, deformidades do pé e sinais de doença vascular. Todos os três podem ser identificados através de um cuidadoso exame físico dos membros inferiores. Dentre estes, a neuropatia parece ser o mais importante no desenvolvimento do pé diabético. Cerca de 80% dos pacientes com úlceras nos pés possuem lesões em seus nervos periféricos.
Também aumentam o risco de complicações o uso de calçados não adequados para diabéticos, principalmente se o paciente apresentar manchas vermelhas, pontos doloridos, bolhas, calosidades, pé chato, joanete ou dor frequente associada ao uso de sapatos.
O cigarro é outro problema importante, pois o tabaco causa danos aos pequenos vasos sanguíneos dos pés e pernas, favorecendo a progressão da lesão vascular e dificultando o processo de cura das lesões de pele já existentes.
Sintomas do Pé Diabético
Todo paciente diabético deve ser questionado durante as consultas se sente algum desconforto nas pernas ou nos pés. Se a resposta for positiva, outras perguntas devem ser feitas para avaliar a gravidade do quadro:
O que você sente nos pés?
a) Queimação, dormência ou formigamento (2 pontos).
b) Cansaço, câimbras ou dores (1 ponto).
Qual é a localização dos sintomas?
a) Pés (2 pontos).
b) Panturrilhas (1 ponto).
c) Outros lugares (sem pontos).
Os sintomas já lhe acordaram à noite?
a) Sim (1 ponto).
b) Não (sem pontos).
Quando surgem os sintomas?
a) Pior à noite (2 pontos).
b) Presente dia e noite (1 ponto).
c) Presente apenas durante o dia (sem pontos).
O que alivia os sintomas?
a) Andar (2 pontos);
b) Ficar em pé (1 ponto);
c) Sentar, deitar ou nada alivia (sem pontos).
A pontuação total de sintomas pode determinar a gravidade da neuropatia:
0 a 2 – Normal
3 a 4 – Leve
5 a 6 – Moderado
7 a 9 – Grave
Algumas pistas simples podem apontar para problemas circulatórios: pulso fraco nos pés, pés frios, pele fina e brilhosa, pele arroxeada, pele seca e descamativa ou a perda de pelos representam os sinais de que os pés não estão recebendo sangue suficiente.
A neuropatia diabética pode levar a sensações incomuns nos pés e pernas, incluindo dor, queimação, formigamento e dormência. O paciente pode perder a capacidade de reconhecer calor e frio. A percepção de pressão sobre os pés também costuma estar alterada.
A neuropatia pode evoluir de modo bem lento, fazendo com que o pé perca gradualmente a sensibilidade. O paciente pode só notar o problema quando o pé já está totalmente sem sensibilidade. Isto pode ser muito perigoso, pois o paciente pode não ter consciência de que os sapatos estão machucando, pode não notar a presença de uma pequena pedra dentro dos calçados ou reparar que existe uma ferida no pé que esteja piorando.
A estrutura e a aparência dos pés podem indicar a presença do pé diabético. A lesão do nervo pode mudar o modo como o paciente pisa e se apoia nos pés, causando deformidades articulares e ósseas.
Qualquer ferida ou vermelhidão nos pés de um paciente diabético deve ser cuidadosamente examinada. As úlceras do pé diabético geralmente iniciam-se com feridas pequenas, que em outras pessoas cicatrizariam sem problemas.
Úlceras do Pé Diabético
As úlceras do pé diabético geralmente surgem por dois motivos: feridas causadas por traumas ou por sapatos não adequados; ou úlceras crônicas, geralmente na sola dos pés, causadas pela combinação de neuropatia diabética, má circulação e deformidades ósseas.
Como o paciente diabético costuma ter uma imunidade baixa e má circulação nos pés, essas úlceras, além de não cicatrizarem facilmente, ainda correm risco de se contaminarem com as bactérias que naturalmente colonizam a pele, como estreptococos e estafilococos.
As úlceras, se não tratadas adequadamente, podem evoluir para lesões extensas e profundas, chegando a comprometer músculos e até os ossos. Uma úlcera infectada pode evoluir com osteomielite, que é uma grave infecção dos ossos. Em alguns casos, quando a circulação sanguínea já está muito comprometida, os antibióticos não funcionam para tratar a infecção e a única solução é a amputação do pé para impedir que o paciente morra de infecção generalizada.
O objetivo do podólogo no tratamento do pé diabético é reduzir a incidência de problemas graves de infecções, ulceração, gangrena e perda dos membros inferiores, alertando sobre alterações que podem ser tratadas de início.
Cuidados com os Pés Diabéticos:
• Deixar sempre secos e limpos;
• Cortar as unhas corretamente;
• Cuidar de lesões no início;
• Limpar ulcerações;
• Usar calçados confortáveis;
• Não andar descalço;
• Hidratar a pele após o banho.